Está no auge da sua carreira de treinador. Os últimos três anos ao serviço do Boavista voltaram a relança-lo no top dos treinadores portugueses.Conquistou já muita coisa com o emblema axadrezado ao peito, mas continua teimosamente a não assumir uma candidatura do Boavista ao título nacional e apenas admite uma possibilidade "lá para o ultimo terço do campeonato".
Finalmente está a conseguir fazer no Boavista aquilo que nunca alcançou nos outros clubes por onde passou, nomeadamente em Alvalade e em Braga...
M.J. - Não consegui porque não tive os meios necessários. Nunca tive planteis para o poder fazer. Fiz em Portimão, quando tive plantel e fomos à Europa. Fiz em Guimarães, sem plantel, com o defesa central a ser o melhor marcador.
O que está a acontecer connosco deve levar as pessoas a reflectirem. O Boavista pode servir de exemplo. Tem um modelo que tem funcionado. Ganha e dá espectáculo. Qundo se dão boas condições materiais e humanas, quando se dá tempo e confiança, é a prova clara de que os projectos a curto prazo são mais válidos que os projectos imediatistas.
Mas é importante ter bons jogadores...
M.J. - Claro, sem jogadores não se fazem grandes equipas. Não conheço ninguém que consiga resultados sem ter bons jogadores. Quem disser o contrário é mentiroso. Não temos os melhores jogadores porque não temos possibilidades, mas temos bons jogadores a quem mudamos a mentalidade. O Boavista já tem uma grande equipa e bons jogadores. Assumimos uma atitude risco desde o primeiro dia, tentamos chegar ao golo o mais rápido possivel, não temos medo de jogar com os grandes e jogamos com os pequenos da mesma forma. É esta a diferença do Boavista das outras épocas... Já jogámos 21 jogos com os "grandes", perdemos seis, empatámos quatro e ganhámos onze...
Falávamos do jogo com a Lázio, do que antecedeu e da festa que se viveu a seguir.
E Manuel José dizia-nos como viveu, ele próprio, aquele encontro decisivo...
M.J. - Fiz o mesmo de sempre. Antes do jogo não fizemos estágio, como é normal.
Treinámos de manhã, almoçamos juntos e descansámos no hotel do costume. Vi televisão, li jornais, passei pelas brasas... claro que há sempre alguma tensão, mas, no meu caso, ela passa logo que entro no autocarro em direcção ao estádio. Já não tenho idade para me impressionar com essas coisas, estou bem vacinado.
E depois da vitória ?
M.J. - Antes de ir para casa, fui com o professor Jorge Teixeira comer qualquer coisa.
Estava satisfeito. E, como acontece sempre depois dos jogos, acordei às cinco da manhã. Fui buscar a cassete do jogo e pus-me a observá-lo.
E gostou do que viu ?
M.J. - Ainda nos falta traquejo internacional, ainda não conseguimos jogar futebol... a rir!
Ainda vejo inibição na face de alguns jogadores, mas é com estes jogos que se ganha estatura futebolistica. E é importante desinibição...
No aquecimento, antes do jogo, vi e ouvi o Artur cantar e os italianos olhavam para ele, admirados. Via-se que estavam nervosos, com medo. Apeteceu-me mandar os jogadores todos cantar, aquilo jogaria a nosso favor, e só não o fiz porque poderia ser... ridiculo. Mas fiz mal. De qualquer modo a equipa estava tranquila, ainda brincámos com o Fua, que é o mais pequeno da companhia, e quando as equipas se preparavam para entrar lado a lado, no relvado, disse : olhem para a cara deles, estão cheios de medo!
Gosta muito de jogar no aspecto psicológico...
M.J. - Às vezes é preciso agitar. Tenho de criar condições para os meus jogadores se sentirem fortes nos jogos. Mas não sou desleal para os adversários.
Manuel José defende o futebol de ataque, o futebol espectáculo. Gosta de ganhar, mas quer que o Boavista jogue bem, ao contrário do que, infelizmente é norma no futebol português.
M.J. - Temos de jogar bem, de nos esforçarmos por isso, até porque o campeonato português está feio! E eu não gosto de chutos para o ar. Quero um futebol sobre a relva, pleno de criatividade e competitividade virado para o golo!
O Boavista tem batido alguns recordes, não mostra receio de jogar com os seus adversários, por mais fortes que estes sejam, mas... e se tivesse que defrontar o Barcelona, uma equipa virada para o ataque?
M.J. - Se jogássemos no Bessa, colocaria o Boavista a jogar na mesma com três avançados! Medo? Não teriamos qualquer medo. Então, se jogamos com Benfica, FC Porto e Sporting com três avançados, por que não atirar ao Barcelona com os avançados que tenho?! Os adversários sabem que se deixarem pôr o pé em ramo verde, eles marcam golos. Sei bem o que vale esta equipa e sei que não podemos ganhar os jogos todos, mas se corrermos tanto como os adversários, temos muitas hipóteses, seja contra quem for!
O Boavista é a equipa que pratica melhor futebol em Portugal?
M.J. - Ficar-me-ia mal dizer isso. Procuramos, acima de tudo, jogar bem, ganhar e dar prazer aos adeptos. Quem gosta de bom futebol, gosta, de certeza, de ver o Boavista!