João Alves é indubitavelmente uma das principais personagens da história do futebol português. Como jogador foi um dos mais geniais futebolistas portugueses de todos os tempos, uma autêntica atracção no espectáculo, considerado em Portugal e no estrangeiro como um verdadeiro fora de série, sobretudo, pela invulgar capacidade técnica e o fino toque de classe que impendia em cada lance.
Também como treinador de futebol João Alves foi diferente e inovador, marcando efectivamente uma época no futebol português, realizando desde o início dessa função uma carreira admirável tanto em grandes como em clubes de pequena dimensão.
A figura de João Alves marcou o fenómeno futebolístico português não só pela sua evidente classe como jogador, mas também pelo adereço que teimava em apresentar em cada jogo que participava. Em todos os jogos o atleta João Alves calçava umas luvas pretas como sua imagem de marca, com o objectivo sentido de homenagear o seu avô, Carlos Alves, afinal, o seu grande ídolo de sempre.
O jogador João Alves ficou por isso conhecido como o famoso “Luvas Pretas”. A história das luvas pretas não pode, obviamente, faltar quando se recorda a carreira do futebolista João Alves.
O avô de João Alves, Carlos Alves, foi também ele um grande jogador de futebol na década de 20 como defesa direito, chegando mesmo a atingir o estatuto de internacional olímpico português. Carlos Alves foi considerado o melhor jogador português de todos os tempos na posição de defesa direito, notabilizou-se, sobretudo, ao serviço do Carcavelinhos e Académico do Porto, tendo jogado também pelo FC Porto.
Também Carlos Alves, a partir de determinada altura da sua carreira, passou a ostentar as luvas pretas calçadas nas suas mãos em cada jogo em que participava. A razão da opção de Carlos Alves em usar umas luvas pretas advém de uma das mais românticas histórias do futebol português.
Certo dia, Carlos Alves a jogar no Carcavelinhos, teria como adversário o SL Benfica. Momentos antes do tradicional desafio uma pequena miúda abeirou-se de Carlos Alves e pediu-lhe que jogasse com as suas luvas pretas calçadas. O defesa explicou então à garota que não poderia satisfazer o seu pedido, pois o futebol e o jogo em questão eram assuntos demasiado sérios para estas brincadeiras. A miúda tristonha calou-se, mas não desistiu.
Já no célebre encontro frente ao SL Benfica, a equipa do Carcavelinhos perdia ao intervalo. A certa altura, Carlos Alves descobre dentro dos bolsos dos seus calções o pequeno par de luvas pretas que pequena rapariga ali colocara sem autorização.
Foi então que Carlos Alves, deveras supersticioso, calçou as pequenas luvas pretas nas suas mãos e regressou ao jogo. A história conta então que o Carcavelinhos acabou por virar o resultado e vencer a equipa do SL Benfica, e a partir de então, o sensacional defesa Carlos Alves nunca mais deixou de jogar com umas luvas pretas.
A primeira vez que o jovem João Alves usou as luvas pretas aconteceu no dia 14 de Novembro de 1970, dois dias depois do falecimento do seu avô Carlos Alves. Com este gesto João Alves prestou a sua particular homenagem ao seu avô decidindo seguir a tradição familiar das luvas pretas.
Além de influenciar a imagem do “Luvas Pretas”, o avô Carlos Alves, foi também determinante na carreira inicial de João Alves. Nos finais da década de 60, Carlos Alves era treinador da equipa principal da AD Sanjoanense e nesse clube inscreveu o seu neto João (...)
José Maria Pedroto, treinador do Boavista FC, conhecia profundamente as potencialidades do jovem João Alves. Insistiu na sua contratação e por 1.500 contos pagos pela transferência ao CD Montijo, João Alves reforçou a equipa do Bessa.
Foi no Boavista FC que João Alves “explodiu” definitivamente para o futebol português. As suas exibições ao serviço dos axadrezados tornaram-no na maior figura da equipa e no maior ídolo da massa associativa do Boavista FC. Rapidamente, também toda a imprensa desportiva o considerava com um dos melhores futebolistas portugueses.
Em 1974/75, a primeira época no Boavista FC, João Alves realizou 30 jogos no Campeonato Nacional da 1ª Divisão e apontou 11 golos, cifra que lhe atribui o lugar de 2º melhor marcador da equipa. Nesta temporada, pelas exibições ao serviço do Boavista FC, foi distinguido pelo CNID como o futebolista português do ano.
(João Alves na equipa da Selecção do Porto na decada de 70)
O Boavista FC revalidaria a conquista da Taça de Portugal na época seguinte, desta vez, sobre o Vitoria SC. Também neste jogo disputado no Estádio das Antas, que o Boavista FC venceu por 2-1, o médio João Alves voltou a desempenhar um papel de destaque, realizando uma excelente exibição.
Já no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1975/76 o Boavista FC sagrou-se vice campeão nacional, obtendo um fabuloso 2º lugar na tabela classificativa.
A participação de João Alves na equipa boavisteira voltou a ser fundamental, realizando uma temporada a todos os títulos soberba. Em 29 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, o meio campista João Alves marcou 15 golos, tornando-se o melhor marcador da equipa.
(Equipa do Boavista FC na época de 1975/76)
(Boavista FC na época de 1983/84)
(João Alves no Boavista FC na temporada de 1983/84)
No Boavista FC da temporada de 1983/84, treinado por Henrique Calisto, João Alves foi igual a si próprio. Com 31 anos de idade, cheio de experiência, foi um jogador preponderante nos boavisteiros que obtiveram um 7º lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão.
João Alves, o famoso “Luvas Pretas”, comandando o meio campo do Boavista FC, realizou 29 jogos na principal competição portuguesa, tendo apontado 3 golos ao longo da prova.
(João Alves no Boavista FC na época de 1983/84)
(João Alves capitão da equipa do Boavista FC)
A época de 1984/85, talvez inesperadamente, seria a ultima temporada do futebolista João Alves e a primeira do treinador de futebol. O Boavista FC começou a ser comandado pelo capitão Mário Wilson.
No dia 9 de Março de 1985, aquando da 21ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1984/85, depois de uma derrota caseira frente ao Vitoria de Setúbal por 0-2, o presidente do Boavista FC, o Major Valentim Loureiro, desanimado com a carreira do clube, demitiu Mário Wilson e convenceu João Alves a assumir o comando da equipa até final da temporada.
(Equipa do Boavista FC na decada de 80)
(Caricatura do "Luvas Pretas" com o equipamento axadrezado)
(João Alves em acção ao serviço do Boavista FC)
(Plantel do Boavista FC na época de 1985/86)