O primeiro distintivo foi uma bola de metal branco, que mais tarde passou a ser toda azul com linhas brancas e as letras FCP a branco. O emblema actual surge em 1922, quando Simplício, na época jogador do clube, decide sobrepor ao então emblema as armas da cidade e um dragão envolto numa faixa onde se lê a palavra Invicta.
"O dragão, símbolo heráldico da cidade, mítico e imortal, adapta-se à mística do clube e dos seus adeptos", diz Rui Moreira. O economista, presidente da Associação Comercial do Porto e comentador da RTP, até consegue, num puro exercício imaginativo, ver São João "pela sua ligação às tradições da cidade" como símbolo do seu clube. "Mas o azul e branco liberal, as cores do Porto antes do Estado Novo, são insubstituíveis", sustenta.
A águia foi escolhida como emblema – símbolo de autoridade, espírito da elevação de propósitos e iniciativa. A divisa adoptada foi Et pluribus unum. "Ao contrário do que muitos pensam, Et Pluribus Unum não significa ‘e todos por um’. Significa ‘entre muitos, um’. Ou seja, entre muitos, há um que se destaca; esse um é, obviamente, o Benfica", diz Ricardo de Araújo Pereira, humorista, adepto do Benfica.
O actual emblema surge aquando da união entre o Sport Lisboa e o Grupo Sport Benfica – clube que dava especial atenção ao ciclismo e atletismo –, em 1908. Sobre a roda da bicicleta do Sport Benfica justapôs-se o símbolo do Sport Lisboa. "A história do Benfica interessa-me imenso", diz Araújo Pereira. "Sou incapaz de imaginar outro símbolo que não a águia", acrescenta.
O leão rompante de D. Fernando
Do outro lado da Segunda Circular está um dos eternos rivais do Benfica: o Sporting, um clube que há décadas faz parte dos chamados três grandes. Tem uma história centenária, também marcada pelos títulos e pela glória. É ao Sport Club de Belas e ao Campo Grande Football Clube que remontam as origens do Sporting Clube de Portugal. Fundado oficialmente em 1906, pelo Visconde de Alvalade e pelo neto José de Alvalade, o Sporting deve a escolha do símbolo ao leão rompante do brasão de D. Fernando de Castello Branco, conde de Pombeiro.
Optou-se pelo verde como cor de fundo em sinal da esperança que os jovens atletas depositavam no futuro do clube. Até 1908 o Sporting equipou de camisa e calções brancos; mais tarde surge a camisa bipartida em verde e branco e calções brancos – que em 1915 foram trocados por pretos. As actuais riscas verdes e brancas chegam em 1928 (originalmente destinadas ao râguebi do clube), inspiradas no equipamento do Racing Club de France (listrada azul e branca).
José Diogo Quintela, também humorista, assume: "sempre que vejo o Sporting jogar com outras cores, o chamado equipamento alternativo, não gosto muito". No entanto relativiza a questão: "as cores dos clubes são muito importantes e remetem para a identidade do Sporting, mas não são o Sporting, que é muito mais que isso".
De onde vem, afinal, o original equipamento do Boavista? Da união entre portugueses e ingleses nasce em 1903, o Boavista Footballers. Camisa preta e calção preto, foi este o primeiro equipamento boavisteiro. É em 1933 que surge o equipamento axadrezado, pela mão de Artur Oliveira Valença. Depois de observar uma equipa francesa que alinhava com a camisola xadrez, o à época presidente boavisteiro decidiu adoptar o mesmo modelo. Como emblema foi escolhido um escudo rectangular com quadrados dispostos em xadrez, encimado por uma coroa.
Mais a Sul, e bem perto do mar, mora outro dos clássicos do futebol português: o Clube de Futebol Os Belenenses, também ele detentor de um campeonato nacional conquistado na já distante época de 1945/1946. Em Assembleia-geral realizada no ano da sua fundação - 1919 - discutiram-se os símbolos e os equipamentos a utilizar. A proposta da Cruz de Cristo – numa clara invocação às Descobertas –, em camisola azul – do mar, pois claro – derrotou a proposta de equipamentos brancos com a Cruz de Malta.
Os calções eram pretos no equipamento original, e não brancos como hoje. "Sem desrespeito para com outros clubes, prezo bastante o facto de não termos nenhum animal no emblema, mas apenas a Cruz de Cristo!", diz-nos com orgulho Henrique Amaral, adepto do Belenenses, que não quer sequer imaginar uma alteração no símbolo: "seria como pintar o mar de outra cor e deitar abaixo os Jerónimos".